Realidade ou ficção científica: conheça a tecnologia do útero artificial
A tecnologia, que mais parece ter saído das páginas de Admirável Mundo Novo, já foi utilizada na gestação de cordeiros e pode salvar vidas humanas.
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Nos últimos anos, avanços significativos na medicina e na engenharia têm nos aproximado cada vez mais de uma realidade que antes parecia pertencer apenas à ficção científica: o útero artificial.
Esse avanço promissor oferece a esperança de revolucionar a forma como as gestações são conduzidas, trazendo inúmeros benefícios, mas também muitos desafios éticos. Vejamos a seguir no que consiste essa tecnologia e o que ela pode significar para o futuro.
Útero artificial: entenda o que é!
Um útero artificial, também conhecido como ‘BioBag’ diz respeito a um ambiente artificial projetado para simular as condições de um útero materno. Assim, ele pode fornecer um espaço seguro e controlado para o desenvolvimento de fetos prematuros, permitindo que eles continuem a crescer e se desenvolverem externamente ao corpo da mãe.
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A criação de um ser humano fora do útero (ectogênese) surgiu a partir da inspiração em incubadoras e técnicas de fertilização in vitro. Esse processo possibilita um período gestacional sem os desafios que normalmente estão ligados ao parto, oferecendo uma alternativa inovadora para o desenvolvimento fetal.
Vale dizer que a expressão ‘ectogênese’ foi introduzida por J.B.S. Haldane, o renomado biólogo britânico que se aventurou na concepção de fertilizar um óvulo em um ambiente externo ao útero.
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Apesar de sua ideia ter, inicialmente, gerado polêmica, sua visão visionária impulsionou avanços científicos significativos na pesquisa em direção ao desenvolvimento de pesquisas sobre o útero artificial. Mas, seria o útero artificial uma tecnologia emergente capaz de mudar o mundo?
Desvendando a origem dos úteros artificiais
A concepção do biólogo foi apresentada durante uma conferência em 1923, naUniversidade de Cambridge. Contudo, é amplamente aceito que a visão de um útero artificial proposta por Haldane tenha servido de inspiração para a visão futurista delineada por Aldous Huxley em seu romance Admirável Mundo Novo de 1932.
Mas, os primeiros experimentos foram conduzidos somente mais tarde, em animais. Assim, os pesquisadores da época desenvolveram dispositivos que permitiam que os fetos se desenvolvessem fora da região uterina, embora os resultados fossem limitados e muitas vezes sem sucesso.
Com o avanço da pesquisa científica, a década de 1950 viu avanços significativos na criação de ambientes artificiais para o desenvolvimento fetal. Tão certo que pesquisadores começaram a explorar meios de nutrição e oxigenação do feto fora do útero.
Já em 2017, uma equipe de estudiosos do Philadelphia Children’s Hospital, localizado na Pensilvânia, alcançou um marco significativo ao estabelecer a primeira estrutura de útero artificial no mundo.
Essa inovação, também chamada de ‘BioBag’, demonstrou sua capacidade de sustentar com sucesso o desenvolvimento embrionário de um cordeirodurante a gestação. Vale ressaltar que o feto foi transferido para esse dispositivo após já ter passado por um estágio inicial no útero da mãe, como parte de uma ectogênese parcial.
EctoLifee e a linha de produção de bebês
No ano de 2022, Hashem Al-Ghaili, um biotecnólogo molecular, introduziu uma concepção revolucionária para a gestação: uma instalação inteiramente baseada em tecnologia, com a capacidade de suportar e dar à luz bebês humanos.
Essa inovação foi denominada EctoLife e tinha como objetivo facilitar a ‘fabricação’ de até 30 mil bebês anualmente.
Apesar de parecer algo saído das páginas da ficção científica, à semelhança da visão de Aldous Huxley, o especialista acredita firmemente que seu projeto é realizável e tem o potencial de mitigar a infrapopulação, conforme previsto por especialistas.
Assim, a infraestrutura da EctoLife consistiria em 75 laboratórios, os quais teriam capacidade para alojar até 400 cápsulas de desenvolvimento. Tais cápsulas, que funcionam como úteros artificiais, são projetadas para replicar fielmente as condições gestacionais.
Dentro delas, os fetos seriam alimentados e oxigenados por meio de um cordão umbilical artificial, ao passo que permaneceriam imersos em um líquido amniótico artificial contendo anticorpos, hormônios e condições de desenvolvimento adaptadas.
Além disso, os especialistas realizariam monitoramentos regulares dos indicadores de saúde dos fetos, com a finalidade de prevenir problemas de más formações, como por exemplo anomalias genéticas.
Por esses caminhos, o útero artificial pode ser uma solução para gestações complicadas ou para situações em que a mãe está enfrentando problemas de saúde, que tornam a gravidez arriscada.
Questões éticas acerca dos úteros artificiais
Embora o projeto de Al-Ghaili pareça promissora, a visão de uma instalação tem sido criticada pelo público devido à percepção de que ela desumanizaria o processo de gestação. Desse modo, a extração do feto do corpo da mãe e sua transferência para um ambiente artificial poderia reduzir a experiência da gravidez a um processo mecânico.
Além disso, a tecnologia dos úteros artificiais pode redefinir conceitos tradicionais de família e parentalidade. A isso incluem questões sobre quem é considerado o ‘pai’ e a ‘mãe’ em uma gestação realizada em um útero artificial e como esses papéis são definidos legalmente e socialmente.
Em outras palavras, a possibilidade de transferir o feto para um útero artificial levanta a questão de quem tem o controle e a tomada de decisões sobre a gestação e o fruto desta.